Dia Nacional da Visibilidade Trans: uma data de celebração e resistência

Publicado em 29 jan 2022.

Tempo de leitura 5 minutos de leitura

Hoje é 29 de janeiro. Não é um dia qualquer. É um dia de luta. De força. De conscientização. É um marco no combate ao preconceito no Brasil, país que lidera o ranking mundial de violência contra as pessoas travestis, transexuais, transgêneras e não-binárias. Mais que um basta à discriminação, esta data busca dar VISIBILIDADE às pessoas por trás da letra T da sigla LGBTQIA+. É dia de divulgar referências e de ouvir a voz dessa comunidade. E é para isso que estou aqui. Vim usar o meu lugar de fala para ajudar a construir um futuro com mais inclusão social a esse segmento da população.

 

Sou Bibi Carneiro. Docker. Engenheira e desenvolvedora de sistemas para máquinas POS. Mulher trans, a pioneira na empresa. Orgulhosa e honrada por ajudar a abrir o caminho das próximas pessoas trans que em breve serão minhas colegas.

Estou na Dock há pouco mais de um ano e tenho a sorte de fazer parte de uma equipe que sempre me deixou à vontade. Mesmo antes de o tema diversidade ser uma linha de atuação formal na empresa, eu já me sentia confortável. Mas, em contatos com outros times, vivi situações que me fizeram perceber que a diversidade ainda precisa ser generalizada enquanto cultura em toda a companhia.

Tenho trabalhado juntamente com o time de ESG da Dock nesta missão prioritária. De nada adianta criarmos vagas afirmativas para pessoas trans se não houver uma educação nesse sentido. Afinal, não basta contratar, é preciso reter essas pessoas na empresa.

Na parte de processos, já tivemos conquistas, e uma delas foi incluir na planilha de dados dos recursos humanos uma coluna chamada “nome social” e outra com o “nome de registro” dos funcionários – esta última marcada com a clara anotação “NÃO UTILIZAR”. Mudança simples, contribuição gigantesca.

 

Sinto-me privilegiada por fazer parte dessa transformação. E, assim como na Dock, ainda temos um longo caminho a percorrer na sociedade como um todo. De acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população de travestis e transexuais se prostituem, e isso se deve à dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho, seja pela discriminação, seja pela deficiência na qualificação profissional causada pela exclusão social, familiar e escolar. Ainda segundo a Antra, a expectativa média de vida de uma pessoa trans é de apenas 35 anos.

Trago mais alguns dados assustadores, esses da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão (CDEI) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem): pessoas trans têm quatro vezes mais sintomas de depressão e maiores taxas de tentativa de suicídio, se comparadas com a população geral. Esses sintomas têm relação direta com a discriminação e violência sofridas durante a vida. Há ainda relatos de que 35% das crianças e adolescentes trans sofrem violência física e 12% sofrem violência sexual. E sabem quantos assassinatos de pessoas trans têm sido registrados no Brasil por ano, no decorrer da última década? Entre 100 e 180.

 

Mas também há razões para comemorar. Aliás, o 29 de janeiro foi instituído como o Dia da Visibilidade Trans graças à repercussão de uma marcha em Brasília, há 18 anos. Para reivindicar seus direitos e mostrar aos parlamentares a importância do tema, 27 travestis e transexuais entraram no Congresso Nacional, como parte da campanha “Travesti e Respeito”, elaborada em conjunto pelo Ministério da Saúde e por importantes lideranças do movimento trans da época. Desde então, a luta pela visibilidade trans só cresceu.

Foram criadas diversas entidades e associações estruturadas, como o Instituto Brasileiro Trans Pela Educação (IBTE), que atua no combate à transfobia no ambiente escolar; a já citada Associação Nacional de Travestis e Transexuais, que organiza 127 instituições em todo o país; e a Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (REDETRANS Brasil), que luta pelos direitos humanos da população trans. Em 2013, surgiu a plataforma Transempregos, para ajudar na inserção de pessoas trans e travestis no mercado de trabalho formal. E especificamente para a área de tecnologia (da qual faço parte), surgiu em 2019 o projeto EducaTRANSforma, que oferece capacitação gratuita e inserção no mercado de trabalho, buscando ser uma ponte entre pessoas trans e empresas.

 

Dá pra ver que a luta mobilizada do movimento trans tem gerado frutos, mas é preciso que a sociedade em geral esteja engajada nesta causa. Só com a participação de todos é que torna-se possível desassociar a população transgênera do estigma da discriminação. Promover uma visibilidade positiva e afirmativa para as pessoas trans é primordial para que elas possam ocupar cada vez mais os espaços que merecem.

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