Identidade digital: a chave para o sistema financeiro do futuro?
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O termo “identidade digital” (ou digital ID, como é chamado em inglês) vem ganhando força nas conversas e projeções do mercado de pagamentos e banking, mas ainda há muitas dúvidas sobre o que de fato é uma identidade digital e como ela pode funcionar dentro da realidade brasileira.
Reconhecimento facial, leitura biométrica, pagamentos cashless, moedas digitais, documentos de identificação acessados apenas pelo smartphone: até pouco tempo atrás, essas tecnologias pareciam existir apenas em filmes de ficção científica situados em um futuro distante.
No entanto, o cenário de inovação tecnológica viveu uma aceleração bastante rápida desde o início da pandemia em 2020, pois várias empresas do universo financeiro precisaram inovar e oferecer soluções que fossem mais seguras, práticas, remotas e menos burocráticas.
Além disso, o período recente também marcou os primeiros passos da integração e da implementação do open finance e do open banking, sistemas abertos pensados para simplificar a movimentação e a migração de dados de clientes entre diferentes plataformas de pagamento.
Nesse novo cenário, não há como negar a força das carteiras digitais, das criptomoedas e das soluções de pagamento ofertadas por fintechs e players não-tradicionais, que estão trazendo inovação e transferindo para o digital formas de pagamento que até pouco tempo atrás só existiam no mundo físico.
Mas, para que essa nova realidade funcione de forma mais segura e integrada, precisamos de uma solução sólida de identidade digital. Entenda melhor neste artigo!
O que é identidade digital e por que ela é uma tendência?
A identidade digital não é necessariamente um único documento de identidade digital, mas sim toda e qualquer forma de documentação que permite reconhecer uma pessoa ou uma empresa via dispositivos e recursos tecnológicos.
É justamente essa integração entre identificação e tecnologia que aproxima a identidade digital do mundo de soluções em banking ― afinal, esse mercado precisou se reinventar e adotar uma abordagem quase que totalmente remota desde o início da pandemia, dando vez para que novos meios de pagamento digitais pudessem ganhar espaço e tração.
Com um número cada vez maior de transações financeiras migrando para o mundo digital, a necessidade de verificação e compartilhamento de dados pessoais e de identificação vem se tornando uma demanda crescente e é, sem dúvidas, um tema a se acompanhar.
Como indivíduos e instituições se beneficiam da Identidade Digital?
Uma análise da McKinsey sobre os benefícios da identidade digital apurou que os indivíduos podem usar o recurso para interagir com empresas, governos e outros sujeitos em seis funções: como consumidores, trabalhadores, microempresas, contribuintes e beneficiários, indivíduos engajados civilmente e proprietários de ativos.
Já as empresas e instituições podem usar a ferramenta como: fornecedores interagindo com consumidores; empregadores interagindo com trabalhadores; fornecedores públicos de bens e serviços interagindo com beneficiários; governos interagindo com indivíduos; e registros de ativos interagindo com proprietários de ativos individuais.
Isso posto, os quatro maiores contribuintes para o valor econômico direto para os indivíduos em todo o mundo são:
- Aumento do uso de serviços financeiros;
- Melhor acesso ao emprego;
- Aumento da produtividade agrícola;
- Economia de tempo.
Para as instituições – tanto no setor público quanto no privado – a pesquisa chegou a cinco maiores fontes de valor:
- Economia de custos;
- Prevenção de fraudes;
- Aumento das vendas de bens e serviços;
- Aumento da produtividade do trabalho;
- Aumento da receita tributária.
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Como a Identidade Digital fomenta a economia?
Já vimos que a Digital ID veio não só para revolucionar as transações financeiras mas para trazer outros benefícios para indivíduos, empresas e instituições. Mas qual é o impacto dessa transformação para além do individual? Ou seja, qual é o potencial dessa estrutura em termos de ganhos econômicos para a população como um todo?
De acordo com a McKinsey, países como Brasil, China e Índia podem gerar um aumento de 3% a 13% do PIB até 2030 se conseguirem implementar de fato políticas de identidade digital que cheguem a toda a população.
Isso se deve ao fato de que a identificação digital pode criar valor econômico para os países principalmente ao permitir uma maior formalização dos fluxos econômicos, promover uma maior inclusão de indivíduos em uma variedade de serviços e permitir a digitalização incremental de interações sensíveis que exigem altos níveis de confiança.
Digital ID e a evolução de pagamentos
Num mundo tão conectado como o nosso, a identidade digital será um recurso valioso e central para a nova era de pagamentos, pois permite:
- Que pessoas físicas possam abrir contas e contratar soluções de crédito de forma prática, rápida e segura ― o que contribui para reduzir o número de desbancarizados;
- Que essas pessoas possam migrar das soluções de instituições financeiras tradicionais para soluções personalizadas oferecidas por fintechs e outros players sem precisarem passar por toda a papelada burocrática;
- Que players do setor de banking e instituições de pagamento possam oferecer serviços e produtos financeiros de adesão e autenticação completamente digital e remota.
A noção de identidade digital vem ganhando popularidade por conta da maior propensão dos clientes a compartilharem dados pessoais com instituições outras que não bancos tradicionais: é o caso das fintechs, das empresas de varejo que já estão migrando para soluções de banking as service, das big techs e de outros players que oferecem soluções como conta digital.
Cenário Digital ID no Brasil e no mundo
De acordo com o Banco Mundial, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo não possuem qualquer forma de identificação. Só no Brasil, em torno de 3 milhões de pessoas não possuem registro civil. Por outro lado, o custo médio global de uma violação de dados chegou a US$ 4,35 milhões em 2022, atingindo um recorde histórico. Já o relatório Fraudes de Identidade, do Serasa Experian, revela que os brasileiros sofrem uma tentativa de fraude a cada 8 segundos.
Esses dados evidenciam a necessidade de um sistema de identificação que seja abrangente e ao mesmo tempo seguro e robusto, abrindo caminho para um futuro de Open Data. Não é à toa que, em todo o mundo, governos estão lançando sistemas de identidade digital.
Segundo a ID4D, organização que apoia a transformação de ecossistemas de identificação digital, 161 países já usam alguma ferramenta digital para identificar pessoas.
Nova carteira de identidade digital brasileira
No Brasil, a nova carteira de identidade digital, que começou a valer em julho de 2022, é um grande passo nesse sentido, já que considera o CPF como registro único, acessível por meio de um QR Code.
Em termos de inclusão social, um dos benefícios é a diminuição do número de documentos necessários para acessar serviços públicos. Do ponto de vista da segurança, a identidade digital unifica o registro geral de brasileiros: caso seja emitida nova identidade em um Estado diferente, o documento já vai contar como segunda via, uma vez que estará vinculado ao número do CPF.
Além da nova carteira, outras possibilidades, a exemplo do Pix como identidade digital, começam a se desenhar como realidade em um futuro próximo.
Dúvidas sobre a nova carteira digital? Veja o vídeo da TV Brasil
Pix e identidade digital
O sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central foi lançado em 2020, com o objetivo de possibilitar transações em tempo real e com tarifas reduzidas ou até zeradas.
De lá para cá, ele já trouxe algumas boas mudanças no varejo e no setor de banking, e não dá sinal de que o ritmo de inovações vai diminuir. Com os recursos mais recentes de Pix Saque e Pix Troco, é possível sacar dinheiro em espécie e realizar micropagamentos como troco após uma compra, respectivamente.
Mas por qual motivo trouxemos o tema Pix e identidade digital? É que, além das funções do sistema de pagamentos serem incrivelmente úteis, elas também são um sinal de como a identidade digital já está muito mais integrada ao Pix do que nós imaginamos.
É só pensar no código QR gerado pelo app do Pix, que usamos para receber ou enviar dinheiro: esse código traz informações que identificam a pessoa ou a instituição que vai receber o dinheiro, pois apresenta nome, CNPJ e outras informações.
Nesse sentido, é como se o código já funcionasse como um tipo de documento de identidade ― só que nós o usamos como canal de pagamento.
O Pix pode virar identidade digital?
Vale destacar que, por mais que o Pix ainda não seja de fato utilizado como uma identidade digital, o próprio presidente do Banco Central já reconhece que é bem provável que o sistema de pagamentos instantâneos possa se transformar em uma identidade digital no futuro.
Afinal, para usar o Pix o usuário precisa ter uma conta bancária ou de pagamento com a identidade comprovada. Portanto, poderia perfeitamente ser utilizado como método de autenticação e de prova de identidade.
Assim, transformar o Pix em identidade digital faz parte dos estudos do Banco Central do Brasil. E uma das ideias está em utilizar o recurso na criação de serviços públicos mais eficientes, levando em conta que boa parte dessa estrutura esbarra na questão da burocracia, lentidão e ineficiência de uma forma geral, aspectos que a digitalização tende a sanar.
Outro ponto que conta a favor da adoção do Pix como identidade digital é a sua ampla utilização pela população brasileira. Considerado hoje o principal instrumento de transferência de valores e de pagamentos usado no país, o sistema atingiu em agosto de 2022 a marca de 131,8 milhões de usuários cadastrados, de acordo com o BCB.
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Identidade Digital e prevenção de fraudes
Em que pese o crescimento de soluções para identidade digital, nem tudo é inovação. Da mesma forma que existe uma demanda pela adoção do recurso como medida de prevenção a fraudes no mercado financeiro, também existe um olhar sobre a existência de riscos associados à tecnologia.
Nesse sentido, as soluções de Identidade Digital ainda precisam ultrapassar algumas barreiras no que diz respeito à segurança. Idealmente, elas devem:
- proteger os dados e a privacidade dos usuários;
- proteger o sistema de pagamentos contra lavagem de dinheiro e outros crimes;
- evitar a disseminação de fraudes.
Identidade digital: para onde vamos?
Atualmente, as soluções de identidade digital ainda são bastante pontuais: a grande maioria delas é construída independentemente dentro de uma instituição ou iniciativa e opera apenas dentro daquele único ecossistema, o que significa que não são integradas aos bancos de dados de outras instituições.
Em outras palavras: são soluções de identidade digital que ainda não estão integradas ao mundo do open banking e não podem ser utilizadas dentro do mundo de pagamentos. Para que a identidade digital possa de fato funcionar como uma infraestrutura completa e integrada, é necessário um ambiente de interoperabilidade total.
Numa realidade de interoperabilidade, as soluções de identidade digital serão capazes de oferecer:
- Controle individual, pois cada pessoa vai poder gerir e atualizar seus próprios dados sem burocracia;
- Inclusão financeira, já que será cada vez mais fácil e prático abrir contas digitais, contratar soluções em banking e migrar de uma instituição para outra;
- Segurança e conveniência para clientes e players, já que tudo poderá ser feito de maneira remota. Isso reduz os custos operacionais e facilita a vida de todos os envolvidos.
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FAQ: as principais perguntas sobre Digital ID
Quais as principais formas de ser identificado digitalmente?
Para comprovar a identidade digital as opções mais conhecidas incluem certificados digitais, leitura biométrica, reconhecimento facial e outras.
Qual a diferença entre identidade digital e certificado digital?
A certificação digital é uma espécie de RG Digital, por isso é utilizada justamente para atestar a identidade de uma pessoa ou empresa. É comum confundir esses termos também com a assinatura digital, que é uma ferramenta utilizada para autenticar a segurança dos dados enviados.
O Pix pode ser utilizado como identidade digital?
O sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central pode evoluir para um tipo de identidade digital no futuro, ou seja, uma forma de comprovar as informações dos cidadãos de forma virtual. Ou seja, atualmente o Pix não é usado como identidade digital.
É obrigatório fazer a nova carteira de identidade digital?
Não é obrigatório, mas a partir de fevereiro de 2032 os atuais RGs perderão sua validade. Pessoas maiores de 60 anos permanecem com o documento com validade indeterminada.
Identidade digital: o que você viu neste artigo?
- Identidade digital é um termo que se refere a toda e qualquer forma de documentação usada para reconhecer uma pessoa ou uma empresa via dispositivos e recursos tecnológicos.
- Com um número cada vez maior de transações financeiras migrando para o mundo digital, a necessidade de verificação e compartilhamento de dados pessoais e de identificação é uma demanda crescente no varejo.
- A noção de Digital ID vem ganhando popularidade por conta da maior propensão dos usuários a compartilharem dados pessoais com instituições outras que não bancos tradicionais.
- A adoção de um sistema de identidade digital representa benefícios para indivíduos, empresas e instituições, além de fomentar a economia dos países.
- Governos em todo o mundo hoje investem em sistemas de identidade digital. No Brasil, por exemplo, a nova carteira de identidade digital promete avanços do ponto de vista da inclusão social e também da segurança de dados.
- Por mais que o Pix ainda não seja de fato utilizado como uma identidade digital, é bem provável que o sistema de pagamentos instantâneos possa se transformar em uma identidade digital no futuro.
- Atualmente, as soluções de identidade digital ainda são bastante pontuais, pois não são integradas aos bancos de dados de outras instituições.