Criptomoedas: investimento promissor ou a ‘bolha do amanhã’?
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O alto investimento realizado por “grandes baleias” – investidores que detêm grandes quantidades de bitcoins – e também a opinião de bilionários com forte poder de influência popular, tem contribuído para que as criptomoedas se valorizem ainda mais. É só pegarmos o caso de Elon Musk, o homem mais rico do planeta. Com apenas um tuíte, Musk fez a dogecoin, criptomoeda que nasceu de um meme e não era levada a sério, obter um crescimento de 68%.
Dogecoin is the people’s crypto
— Elon Musk (@elonmusk) February 4, 2021
Não muito tempo depois o “quase trilionário” investiu $ 1,5 bi em bitcoins e a criptomoeda alcançou o valor de $ 46.500, aproximadamente R$ 259.000.
As grandes baleias parecem ter o mesmo poder do Rei de Midas, porém, ao invés de tocar, basta apenas falar, ou melhor, postar sobre o objeto desejado para que esse se valorize ainda mais. Após isso, é questão de horas para o mercado ficar fervoroso, a mídia espalhar a notícia sobre o tuíte, investidores começarem a comprar ou a vender o ativo financeiro e milhares de pessoa seguirem a ordem.
A questão é: Até onde esse poder de influência pode ser usado para benefício próprio?
Muitos falam que o bitcoin irá subir. Outros, que irá descer. No entanto ainda não chegou o dia que inventaram uma expertise ou qualquer tipo de graduação que permita a previsão do futuro. Tudo que temos são apenas especulações.
Mesmo que em poucos meses 2021 pareça ser um ano decisivo na história das criptomoedas, em especial, do bitcoin, ainda estamos longe de saber se as criptos tratam-se de um investimento seguro ou uma grande bolha prestes a estourar.
Vamos analisar os fatos.
A alta volatilidade do bitcoin, justamente um dos seus principais atrativos, o tornam um investimento de alto risco. No final de fevereiro, ele atingiu seu máximo histórico de $ 58 mil, e na mesma semana o ativo também caiu para $44 mil, um total de 32%.
Tanto a sua alta volatilidade quanto também o aumento do número de fraudes relacionadas às criptomoedas – destaque as pirâmides – as tornam distantes de ser um investimento seguro.
Um outro fator negativo é o alto consumo de energia utilizado para a sua mineração. Segundo um recente levantamento realizado pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a mineração de Bitcoin consome mais energia do que toda a Argentina, e caso a criptomoeda fosse um país, estaria no 28 º lugar no consumo global de energia. Os altos gastos elétricos não foram criticados apenas por ambientalistas. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, descreveu o bitcoin como “uma forma extremamente ineficiente de fazer transações” e que “a quantidade de energia consumida no processamento dessas transações é impressionante”.
Do outro lado do planeta, a China determinou que irá encerrar todas as instalações de mineração da criptomoeda, na região da Mongólia, justamente para reduzir o alto consumo elétrico.
Por outro lado, as criptomoedas estão com uma alta tendência de popularização, demonstrando que chegaram para ficar. Segundo o banco Citi, o bitcoin possui um design descentralizado, falta de exposição em moeda estrangeira, movimentos rápidos de dinheiro, canais de pagamento seguros e rastreáveis e principalmente um alcance global. Reunidos todos esses atributos, segundo a centenária empresa bancária, o bitcoin poderá ser a moeda de escolha para o comércio internacional.
Devido a esses atributos da cripto, existem movimentos na Nigéria que defendem que o bitcoin se torne a moeda oficial do país. Um dos principais motivos é a atual moeda nigeriana ser fraca e também a alta inflação no país.
A utilização de bitcoins em esferas governamentais é também debatida em grandes economias, como os Estados Unidos. Recentemente, o prefeito de Miami informou que quer pagar parte do pagamento de servidores público com bitcoins.
Criptmoedas e Investimento
Outra vantagem das criptomoedas são a facilidade de entrada para investimento, possibilidade de investir em pequenas quantias e – mais uma vez no caso do bitcoin – uma fácil liquidação.
A criptomoeda também pode ser vista não como um ativo a ser investido, mas como uma moeda de câmbio, ou seja, uma moeda para ser utilizada na troca de serviços e produtos. Existe uma alta possibilidade de um crescimento na realização de transações e negócios por bitcoins.
Em 2021, observamos também que grandes bancos e empresas de cartão de crédito aderiram as criptomoedas. Em fevereiro, a Visa anunciou testes de uma interface de programas de aplicações (API) que permitirá com que bancos ofereçam serviços com bitcoins e outras criptomoedas. No mesmo mês, a rede Mastercard anunciou que irá integrar algumas criptomoedas como forma de pagamento em 2021.
Compras online podem ser realizadas com criptomoedas. Até mesmo viagens. Sites do segmento de turismo, como o Travala, por exemplo, tem opções de pagamento que podem ser realizadas com criptos.
Pouco a pouco a criptomoeda entra no nosso cotidiano, mas a possibilidade de comprar itens do dia a dia no varejo ainda tem desafios quase insolúveis. Mais uma vez a alta volatilidade se torna a grande vilã. Além de não permitir um controle nos valores, é também quase impossível realizar o fechamento de caixa com a validação dos variáveis preços da cripto que muda de hora em hora.
Michael Burry, investidor famoso por ter previsto a crise dos subprimes em 2008, afirmou que o bitcoin pode ser comparado ao mercado imobiliário em 2008, ou às empresas pontocom no final dos anos 1990. Antigas bolhas, que foram “infladas” e geraram um enorme prejuízo financeiro.
A grande questão é que a criptomoeda não está ligada a nenhuma construção de fato, ela não está sendo utilizada para construção, seja para fazer câmbio ou construir novos valores, ela está sendo apenas um ativo variável sem um valor sólido.
É provável que no futuro as criptomoedas estejam cada vez mais presentes, porém diversas variáveis, como uma falha no blockchain ou a possibilidade de determinados governos proibirem sua transação ou até mesmo a questão da energia consumida para minerar novas criptmoedas pode atrapalhar e fazer o investimento do futuro se tornar o estouro da bolha do amanhã.
Em meio a esse mundo de especulações, dois atributos se tornam essenciais para o investidor: estudo e – principalmente – cautela.
Autor: Rafael Pires – Gerente Executivo de Clientes na Dock
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade única e exclusiva do autor.