Pagamentos instantâneos pelo mundo: países que consolidaram modelos como o Pix
14 minutos de leitura
O Pix foi lançado em novembro de 2020 e, de lá pra cá, vem transformando o sistema de pagamentos instantâneos no Brasil. Até o final de 2021, foram cadastradas 348 milhões de chaves e 1,6 bilhão de transações foram realizadas, movimentando R$ 4,1 trilhões, segundo o Banco Central. O seu sucesso confirma a receptividade dos brasileiros para sistemas de pagamentos mais práticos e rápidos.
A utilização de serviços digitais foi acelerada durante a pandemia. O Pix revolucionou os pagamentos instantâneos e hoje faz parte da rotina das pessoas – em números absolutos, já supera as transações feitas por DOC, TED, cheques e boletos. De acordo com o BC, 104,4 milhões de pessoas e 7,9 milhões de empresas já usam o Pix para pagar ou receber, o que representa 63,6% da população adulta.
O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro vem contribuindo para o crescimento do número de bancarizados no país. Entre fevereiro de 2020 e dezembro de 2021, 16,6 milhões de pessoas se tornaram clientes de instituições financeiras. Como o Pix não tem taxas e pode ser feito a qualquer momento, também contribui para a necessária retomada econômica.
Os passos dados com o Pix convergem com a inovação proposta pelo Open Finance no sistema financeiro. Ainda assim, observar a experiência de outros países da América Latina e também de quem já consolidou o modelo há mais tempo, como a China, a Índia e o Reino Unido, pode trazer aprendizados aos bancos, empresas e consumidores brasileiros.
Neste artigo, vamos mostrar como funcionam alguns sistemas de pagamentos instantâneos equivalentes ao Pix ao redor do mundo e o que mudou após sua implementação.
Conheça alguns dos principais sistemas de pagamentos instantâneos pelo mundo
Os pagamentos instantâneos são uma das inovações financeiras mais importantes dos últimos anos e estão impulsionando a economia digital no mundo todo. Já são mais de 50 nações habilitadas com essa tecnologia e ainda há muito potencial a ser explorado em diversos países.
Para que um país desenvolva um sistema de pagamentos instantâneos próprio, alguns critérios são indispensáveis e precisam ser o ponto em comum entre as plataformas mundiais. São eles:
- Disponibilidade de uso 24 horas por dia, nos sete dias da semana.
- Transações rápidas, efetuadas em menos de um minuto.
- Facilidade de cadastro e simplicidade para usar.
Na América Latina, alguns países já têm seus sistemas de pagamentos instantâneos. Como já mencionamos, é o caso do Brasil, onde o Pix se equipara a modelos de outros países que são referência no mundo por responder a todos os atributos necessários.
A seguir trataremos sobre o sistema mexicano e alguns outros em desenvolvimento na Latam, além de detalhar outros projetos já estabelecidos e bem-sucedidos pelo mundo. Acompanhe!
América Latina: grande potencial para pagamentos instantâneos
Há um enorme potencial para os pagamentos instantâneos na América Latina, já que 54% da população da região ainda não usa meios de pagamentos digitais ou serviços bancários e 70% das transações são feitas com dinheiro.
A digitalização na América Latina é crescente – mais de 70% da população já possui smartphones. Mas para incluir as pessoas no sistema financeiro, é preciso mais. O ecossistema precisa ser inovador e competitivo para oferecer serviços mais acessíveis e centrados no cliente. Além disso, promover educação financeira é essencial.
O nível de adesão aos pagamentos instantâneos encontra-se em diferentes estágios nos seis países com maior PIB do continente – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. Em uma ponta está o Brasil, case de sucesso com o Pix. Na outra, está o Chile, com promessas de estabelecimento de um sistema semelhante, mas sem avanços tecnológicos nos últimos anos.
Argentina, Peru e Colômbia estão avançando
Quando o assunto é pagamentos instantâneos na América Latina, a Argentina vem se destacando após implementar o Transferencias 3.0, em 2021. O programa utiliza QR Codes interoperáveis e permite aos usuários transferirem instantaneamente em seus smartphones, usando aplicativos de qualquer banco ou carteira digital.
Peru e Colômbia são casos em que as iniciativas dos sistemas são privadas e, assim, não operacionalizadas pelos bancos centrais. Nesse sentido, o Peru planeja modernizar a infraestrutura de pagamentos digitais no país usando o Pix como referência, enquanto a Colômbia vem buscando aprimorar o seu modelo privado, chamado Transfiya.
Em todos os casos, os países preveem ou apresentaram recentemente crescimento de adesão e evoluções em seus sistemas. Assim, o fornecimento de tecnologias que viabilizem a entrada de mais players ou beneficiem a experiência do cliente final são certamente bem-vindas.
Com previsão de crescimento de 29% do e-commerce na América Latina entre 2020 e 2024 e aumento na utilização de cartões (débito e crédito) de 68% para 73% entre 2020 e 2023, abrem-se lacunas para novas ofertas e melhorias deste meio de pagamento, tanto por quem já oferece quanto para novos players.
CoDi: pagamentos instantâneos no México
O país lançou, em 2019, um sistema chamado CoDi (abreviatura de Cobrança Digital), baseado em QR Code e tecnologia de comunicação de campo próximo (NFC) por telefone.
Tendo como referência o Pix, a plataforma tinha 13.959.085 contas validadas até julho de 2022. Mas apesar do impulso para a digitalização que a pandemia trouxe, o CoDi ainda não teve atração suficiente para que a população dê preferência às contas digitais em detrimento do dinheiro.
Com uma população de cerca de 130 milhões de pessoas e um índice altíssimo de desbancarizados, além do desafio da inclusão financeira, o sistema precisa ultrapassar a barreira de educação no uso de pagamentos instantâneos e da digitalização da abertura de contas, além de depender também do esforço do setor financeiro do país como um todo nesse processo.
Veja como funciona o CoDi no México:
UPI: pagamentos instantâneos na Índia
Lançado em 2016 pela National Payments Corporation of India (NPCI), o sistema UPI (Unified Payments Interface) conta com mais de 150 milhões de usuários ativos e tornou o país um dos líderes mundiais em pagamentos instantâneos: até julho de 2022 já eram mais de 6 bilhões de processamentos por mês, movimentando mais de 10 trilhões de rúpias.
Em até cinco anos, a NPCI espera alcançar um bilhão de transações por dia. O diferencial do sistema de pagamentos instantâneos da Índia está na simplicidade e agilidade com que as transações ocorrem, tanto entre pessoas físicas como entre as empresas. A plataforma padronizou o uso do QR Code e colocou a Índia como um modelo de inclusão financeira mundial.
E vem mais novidades por aí: a Índia já possui estrutura para permitir pagamentos digitais offline. Dessa forma, facilitará a vida dos usuários que não têm acesso à internet – hoje, cerca de 50% dos indianos estão desconectados, quase 700 milhões de pessoas, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial de 2020.
Com isso, a Índia reforça sua posição inovadora em serviços financeiros digitais e amplia o alcance à população rural e aos mais pobres. No âmbito dos negócios, expandir o alcance dos pagamentos instantâneos traz oportunidades para as fintechs indianas, que possuem tecnologia para acelerar e escalar o sistema.
Duopólio das big techs no sistema de pagamentos instantâneos da China
O gigante asiático é pioneiro em pagamentos instantâneos, por meio de carteiras digitais e QR Codes. Dados do Banco Popular da China apontam que as pessoas usam pagamentos instantâneos para as mais variadas compras do dia a dia e no e-commerce. Em 2021, a instituição processou 275 bilhões de transações de pagamentos eletrônicos, sendo 151.22 bilhões em transações mobile. Isso representou um aumento de 22,7% em relação ao ano anterior.
Os pagamentos com NFC, QR Codes e até reconhecimento facial são amplamente usados no país. Para fazer compras em restaurantes e lojas de conveniência ou andar no transporte público, por exemplo, os chineses contam com essas tecnologias.
Os dois principais aplicativos para pagamentos instantâneos na China são WeChat Pay, app que possuía mais de 1,3 bilhão de usuários ativos por mês no primeiro trimestre de 2022; e o Alipay, com 640 milhões de usuários ativos mensais em dezembro de 2021. O WeChat Pay tem a maior participação de mercado por taxa de penetração na China, com 92,7% em 2020.
A China investiu em fintechs e na criação de novos meios de pagamento digitais para resolver o problema das fraudes em papel-moeda. Por esse motivo, e também como estratégia de prevenção a fraudes, é raro encontrar estabelecimentos que ainda aceitam dinheiro em espécie por lá.
Em 2018, cerca de 83% dos pagamentos já eram realizados diretamente em smartphones. Além disso, em 2021, a taxa de penetração total para todas as formas de pagamentos “mobile” foi de 87,6%.
O estímulo ao uso de carteiras móveis, aliado às questões de segurança, conveniência e economia, fez com que o país saltasse direto das transações em dinheiro para as contas digitais (o uso de maquininhas de cartão também é mínimo).
A penetração das big techs chinesas também é observada nas linhas de empréstimos e financiamentos para pessoas físicas e pequenos negócios. Contudo, o governo chinês parece disposto a regular esses mercados para conter a expansão das corporações e competir com o duopólio, processo que passa pela utilização da moeda digital do Banco Central chinês, o Yuan digital.
Entenda como a China está implementando sua moeda digital no vídeo do Wall Street Journal:
Reino Unido: SPI no berço do Open Banking
O Reino Unido já conta com a rede de serviços Faster Payments há mais de 12 anos. Em 2020, bateu recorde com 2,9 bilhões de pagamentos instantâneos processados. O país também é a maior referência em Open Banking no mundo, sendo pioneiro ao utilizar uma API para estabelecer um padrão único de como seria a troca de dados entre bancos, fintechs e consumidores em 2018.
Esse processo facilitou a entrada dos meios de pagamentos instantâneos no país, já que o know how com o modelo de “sistema bancário aberto” é a premissa para que os usuários movimentem suas contas a partir de diferentes plataformas com segurança e agilidade.
Projetado para atender a todos os tipos de consumidores, o Faster Payments é mais utilizado em transações via pessoa física, mas a demanda também vem crescendo no varejo local, já que 96% dos pagamentos efetuam a operação em questão de segundos.
O que é tendência em sistemas de pagamentos instantâneos
À medida em que os sistemas de pagamentos instantâneos amadurecem e se consolidam no mercado, eles passam a agregar valor além da velocidade da transação. O sucesso desses modelos depende da rapidez e da eficiência da padronização do ecossistema. Assim, a característica central para maior adesão é a agilidade. Depois disso, as empresas começam a aprimorar a experiência do usuário com outras features.
Nesse sentido, o QR Code, popularizado inicialmente na China e na Índia, impulsionou também o aumento dos pagamentos instantâneos em outros países. O principal benefício dessa solução é a praticidade: o cliente precisa apenas escanear o código QR fornecido pelo serviço ou estabelecimento com um smartphone para iniciar o pagamento e concluir a transação com rapidez, segurança e economia.
Além disso, outra tendência que já se estabeleceu é a solicitação de pagamento. Por meio da funcionalidade, o emissor pode mostrar os detalhes da fatura por meio do sistema de pagamentos instantâneos e o cliente pode pagá-la automaticamente. O recurso permite a automatização no processamento das contas e mais agilidade nas cobranças.
Mas, entre todas as possibilidades de desenvolvimento, quais são as principais tendências do mercado para atrair novos clientes? De acordo com a Thoughtworks, consultoria global de tecnologia de informação, podemos listar algumas:
- Os pagamentos instantâneos alimentam a inovação tecnológica e vice-versa. Bancos e instituições financeiras estão usando big data para conhecer melhor seus clientes e oferecer experiências personalizadas. Soluções baseadas em blockchain e criptomoedas também estão sendo experimentadas;
- API aberta: pesquisa da Finastra mostrou que 86% dos bancos consultados querem usar APIs abertas para habilitar o open banking nos próximos 12 meses;
- Big techs como Apple e Google estão aproveitando a infraestrutura tecnológica existente para oferecer produtos financeiros inovadores aos clientes, enquanto fintechs aproveitam para ofertar investimentos em fundos mútuos;
- Os pagamentos instantâneos estão impulsionando microeconomias por meio do RTP (Real-time Transport Protocol), que gera um ecossistema que incentiva empresas terceirizadas a oferecerem produtos inovadores, e ainda ajuda a aprimorar a gestão de capital de giro e liquidez das empresas;
- A pandemia acelerou a adoção dos sistemas de pagamentos instantâneos contactless, especialmente no varejo e em restaurantes. Apesar do entusiasmo em torno do uso da tecnologia RTP, a expansão do sistema em escala nacional impõe desafios e exigirá cautela dos países que desejam implementar a tecnologia em seus sistemas de pagamentos.
Por mais transações digitais!
A implementação de diferentes sistemas de pagamentos instantâneos em outros países serviu como referência para o Pix no Brasil, que mostrou ser um grande sucesso com pouco tempo de operação. A revolução do sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central influencia o mercado a criar soluções tecnológicas inovadoras e estimula a competitividade.
Independentemente da escolha da tecnologia, em todo os lugares, os emissores precisam adaptar o sistema de acordo com o seu público e seus objetivos, tendo como premissa a simplicidade e a facilidade em viabilizar as transações entre os consumidores.
Pagamentos instantâneos: resumo
- A utilização de meios de pagamentos digitais cresceu durante a pandemia;
- O Pix revolucionou os pagamentos instantâneos e hoje faz parte da rotina dos brasileiros;
- Há enorme potencial para os pagamentos instantâneos na América Latina, já que 54% da população ainda não usa meios de pagamentos digitais;
- A Índia avança para permitir pagamentos instantâneos offline, movimento que pode incluir no sistema digital de pagamentos cerca de 700 milhões de pessoas;
- Na China, 776 milhões de pessoas fazem pagamentos instantâneos com apps de big techs, mas o governo vem buscando regular e competir nesse mercado;
- Dois terços dos países do mundo ainda não utilizam pagamentos instantâneos, portanto, ainda há muito potencial a ser explorado com a tecnologia, visando sempre tornar as transações cada vez mais simples, ágeis e práticas.
Artigos relacionados: