Big Techs, bancos e a expansão dos serviços financeiros

Publicado em 27 mar 2020.

Tempo de leitura 5 minutos de leitura

Movidas pela inovação e por sistemas disruptivos, grandes empresas como Apple, Google e Amazon dominaram o mercado de tecnologia nos últimos anos, ficando no ranking das marcas mais valiosas no Best Global Brands 2019, da consultoria global Interbrand.  As chamadas Big Techs, surgem com novas plataformas e opções de serviços a cada dia, reforçando sua característica mais intrínseca: funcionar através de um modelo de negócio ágil, escalável e capaz de se reinventar dentro de padrões econômicos já estabelecidos.

No momento, a nova aposta das Big Techs é expandir suas funções para o setor financeiro, oferecendo outras possibilidades para os usuários, como novos meios de pagamentos e até empréstimos e seguros.

Em um campo que é tradicionalmente ocupado por instituições financeiras, estas empresas ainda estão descobrindo como ampliar sua visão de mercado e aplicar o know-how tecnológico na área. Neste artigo, vamos explorar as perspectivas dessa nova relação entre os bancos e as Big Techs e como isso impacta o setor dos meios de pagamento.

 

Big Techs x bancos: complementares ou rivais?

A maioria das Big Techs oferece produtos financeiros gratuitos aos consumidores e essa é uma das razões que explica a recente movimentação no setor. Dessa forma, conseguem manter-se lucrativas e relevantes, expandindo o leque de serviços que já oferecem aos usuários como core de seus negócios.

Isso, então, não significa que essas empresas vão tomar o lugar dos bancos e das fintechs. Segundo um artigo da CNBC, não faz sentido que as Big Techs se tornem instituições bancárias regulamentadas, mas sim que operem junto aos bancos, como parceiros licenciados em determinadas operações.

Conforme está no texto, o Líder Global de Pagamentos da Accenture, Sulabh Agarwal, aponta que obter uma licença bancária seria um risco grande para essas empresas, por isso, a solução é que as Big Techs continuem adicionando serviços bancários dentro de suas plataformas, sem usar o sistema bancário completo.

Quando o assunto são as fintechs, o receio da possível concorrência é menor, porque normalmente as startups são consideradas como colaboradoras que complementam os serviços e resolvem problemas de infraestrutura neste cenário.

A seguir, entenda como algumas destas companhias estão oferecendo seus serviços financeiros, aliadas em parcerias estratégicas com os bancos.

Parcerias já implementadas entre bancos e Big Techs

Para exemplificar, resumimos de que forma os bancos e as três Big Techs citadas no começo do texto estão se complementando na oferta de novos recursos financeiros:

  • Apple: Em 2019, lançou um cartão de crédito junto com o grupo Goldman Sachs, que é entregue diretamente no aplicativo da wallet (carteira digital) do iPhone. Por enquanto, o serviço está disponível apenas nos Estados Unidos.
  • Google: Também em 2019, o Google Payment conquistou uma licença para prestar serviços de e-money em toda a União Europeia, o que inclui processamento de pagamentos e emissão de dinheiro eletrônico. Para 2020, estão desenvolvendo um projeto de conta corrente, em parceria com o grupo Citi, segundo o The Wall Street Journal.
  • Amazon: Em parceria com o Bank of America e Goldman Sachs, a empresa vem investindo em diversos subprodutos que envolvem novas formas de pagamentos, conta-corrente, empréstimos e seguros.

Na via contrária, os bancos também se beneficiam da parceria com as Big Techs. Um exemplo já ocorre no Brasil, com o uso do Google Assistente pelo Banco do Brasil. O banco usa bots dentro da plataforma do Google para dar informações gerais a pessoas físicas e jurídicas, com opção de emissão de senhas de atendimento presencial na agência e localização das agências mais próximas à localização do cliente, através do Google Maps.

Porta de entrada para os meios de pagamento digitais

O surgimento das Big Techs e a sua associação com grandes bancos culminam na revolução digital do sistema bancário, e esse movimento tem reflexo direto no segmento dos meios de pagamento.

O cálculo é simples: crescimento de mercado e aumento de demanda. Se já existem sistemas de carteiras digitais, a tendência é que recursos desse tipo evoluam e se consolidem no futuro com as parcerias, cada vez mais frequentes, entre bancos e empresas de tecnologia.

BIS - Relatório Econômico Anual 2019 sobre as Big Techs.

Fonte: BIS – Relatório Econômico Anual 2019 sobre as Big Techs.

Conforme dados do BIS, o Banco de Compensações Internacionais, que analisa as oportunidades de atuação das Big Techs no mercado financeiro, a expansão dessas empresas no setor – apesar de ainda ser discreto – vai ampliar a inclusão financeira mundial, trazendo benefícios para o ecossistema como um todo.

 

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