Open Banking: como o sistema muda o mercado financeiro
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O mercado financeiro vem passando por grandes transformações, alterando a forma como os produtos e serviços são oferecidos aos consumidores, principalmente por causa da inovação tecnológica e do surgimento de novos meios de pagamento.
Após a implementação do Pix no Brasil, a mais recente delas é representada pelo conceito de Open Banking, um sistema que chega para simplificar a portabilidade de dados bancários e defende que as informações financeiras de pessoas físicas e jurídicas não sejam restritas às instituições – o que deve revolucionar o mercado nos próximos anos.
Neste artigo, vamos apresentar os principais detalhes sobre esse modelo e detalhar qual deve ser seu impacto no sistema financeiro brasileiro e de outros países. Confira!
O que é Open Banking?
Como a própria tradução livre do termo diz, a proposta é de “abrir o sistema bancário”, permitindo que os clientes movimentem suas contas a partir de diferentes plataformas, além de facilitar a migração para outras instituições com a padronização do processo.
Ou seja, bem diferente do modelo pré-Open Banking, no qual a posse dos dados dos clientes é exclusiva das instituições financeiras que detém a conta ou produto bancário.
Através da tecnologia de interface de programação de aplicativos, as APIs, o sistema permite a ampliação da oferta de produtos e serviços financeiros, aumentando a geração de negócios e estimulando a competitividade no setor, já que impacta diretamente bancos, fintechs e outros negócios relacionados.
Na prática, o Open Banking é a possibilidade do consumidor gerenciar sua conta e seus serviços de forma unificada, mesmo que cada produto pertença a uma instituição diferente.
Segundo o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, “o Open Banking está para o sistema financeiro como a internet está para a sociedade. Os benefícios e casos de uso serão visíveis ao longo dos próximos meses e anos”.
Implementação do Open Banking no Brasil
E como o Open Banking está chegando ao mercado brasileiro e de outros países do mundo? Em muitos locais ainda há pontos de discussão e de regulamentação, mas no Brasil já começamos a dar os primeiros passos rumo a um mercado aberto.
O Banco Central discute sobre a regulamentação do sistema desde 2019, quando abriu uma consulta pública a respeito do tema. Sua implementação, contudo, começou em 2021 e terá quatro etapas. Recentemente, o cronograma sofreu ajustes e algumas fases serão concluídas somente em 2022.
Veja quais são as quatro etapas de implementação do Open Banking:
- 1º/02/2021: a primeira teve início em fevereiro e corresponde à fase de compartilhamento de dados públicos das próprias instituições financeiras como, por exemplo, a localização das agências, as tarifas bancárias, os tipos de produtos e serviços prestados por cada uma, empréstimos e financiamentos.
- 13/08/2021: já a segunda trata de dados mais sensíveis, com o compartilhamento de informações cadastrais e transacionais entre as instituições, desde que o consumidor dê seu consentimento.
- 29/10/2021: na terceira fase será permitido o compartilhamento de serviços de pagamentos ou de oferta de crédito, permitindo que os clientes paguem contas e façam transferências bancárias fora do internet banking ou do aplicativo do banco, por meio de um aplicativo intermediário.
- 15/12/2021: a quarta e última fase corresponde ao compartilhamento de dados de outros serviços, como informações sobre investimentos, seguros e operações de câmbio.
Vale mencionar, ainda, que, recentemente, o Banco Central anunciou oficialmente a substituição da nomenclatura do projeto brasileiro de Open Banking para Open Finance. O conceito representa uma transformação mais ampla no mercado: além dos bancos, outras organizações também poderão compartilhar serviços e informações. Entre elas, corretoras de seguros, varejistas, indústrias, companhias de câmbio, fundos de previdência etc.
Adesão ao Open Banking no Brasil
Uma pesquisa encomendada pelo Banco PAN aponta que apenas 16% do público brasileiro (das classes C, D e E) já ouviu falar em Open Banking.
Ainda assim, de acordo com uma projeção da consultoria FCamara, a expectativa é de que cerca de 5 milhões de brasileiros devem aderir ao sistema nos próximos meses, à medida em que forem conhecendo melhor o seu funcionamento.
No país, a participação dos médios e grandes bancos é obrigatória. Para as demais instituições, a adesão é facultativa. Já o compartilhamento de dados dos clientes só pode ocorrer com a autorização prévia entre o cliente e a instituição financeira.
Confira a lista das instituições que já estão participando do Open Banking.
Vantagens e desafios do Open Banking
No Brasil, especialistas sobre o assunto afirmam que entre os principais desafios em executar o sistema estão a preocupação com o vazamento de dados, prevenção a fraudes e a questão de custos com a implementação.
Apesar disso, os benefícios do Open Banking parecem compensar as dificuldades. Fizemos um resumo das principais vantagens e desafios do projeto:
Vantagens do Open Banking
- Aumenta a competição: facilita a entrada de melhores produtos e serviços financeiros para os consumidores, garantindo também mais eficiência.
- Padronização: agrega em um único ambiente todos os produtos e serviços de diferentes provedores.
- Facilita a vida do consumidor: a oferta aumenta e a burocracia diminui. A migração para outras instituições pode acontecer de um jeito muito mais simples.
- Criação de novas soluções: a implementação do Open Banking gera novas oportunidades para que outras soluções sejam desenvolvidas, complementando os serviços do sistema financeiro como um todo.
Desafios do Open Banking
- Mudança de mindset: algumas empresas do setor ainda são resistentes ao modelo, já que hoje não precisam compartilhar informações com os concorrentes.
- Segurança das informações: um dos maiores desafios será estabelecer mecanismos de controle para garantir a segurança dos dados.
- Aumento de custos: o crescimento no volume de transações entre as instituições deve demandar maior investimento em equipe, treinamentos e infraestrutura tecnológica.
Open Banking no mundo
A maior referência em Open Banking é o Reino Unido, que foi pioneiro mundial no assunto em 2018, ao utilizar uma API para estabelecer um padrão único de como seria a troca de dados entre bancos, fintechs e consumidores.
Países como Canadá, Índia, Austrália, Rússia, Singapura e Japão já estão analisando o tema ou progredindo na legislação para implementar o sistema.
Perspectivas para o Open Banking no Brasil e no mundo
Aos poucos, o Open Banking entrará em operação, impactando as trocas e o compartilhamento de informações de forma definitiva no país. A ideia é que mais fintechs entrem no mercado e concorram, cada vez mais, com grandes bancos, aumentando a competitividade e as oportunidades de relacionamento com seus clientes.
Como vimos que já está acontecendo no Brasil, em outros locais já se discute também a evolução desse sistema para o que seria o “Open Finance” (Finanças Abertas), abrangendo outras entidades, como corretoras de seguros, plataformas de investimentos e fundos de pensão.
Um dos maiores eventos do setor, o Open Banking World Congress, debateu em sua última edição novas oportunidades, experiências de implementação e caminhos futuros sobre essa importante transição de modelo no mercado financeiro. Você pode assistir à gravação das apresentações no site do OPWC2020 (após cadastro).
Open Banking: resumo
- O Open Banking, ou Sistema Financeiro Aberto, é uma iniciativa de compartilhamento de dados já implementada em alguns países do mundo, sendo o Reino Unido o precursor do modelo;
- Já se encontra em implementação no Brasil e a previsão é de que o processo seja concluído em 2022;
- O Open Banking vai aumentar a competição entre as instituições financeiras, modernizar o sistema e facilitar a vida da população.
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